CASACOR é um evento de arquitetura, interiores e design para expor e divulgar novas tendências e projetos para casas com os profissionais mais relevantes do mercado.
Com banheiro de 47m², casa de 37m², Loft de 54m², casa de 67m² os ambientes neste evento trazem consigo uma histórias, memórias novas propostas.
Veja neste artigo a minha experiência na CASACOR através das pessoas incríveis que conheci, os momentos mais marcantes e os espaços mais memoráveis do evento!
O evento existe há mais de 30 anos e ocorre nas principais cidades do Brasil nos lugares mais icônicos da arquitetura.
Neste neste ano de 2023 em na capital paulista o evento foi sediado no segundo e terceiro andar do edifício Conjunto Nacional, localizado na movimentada Avenida Paulista. "Corpo & Morada" é o tema do evento deste ano.
Esta moça que vos fala é esta na foto que foi tirada quando eu estava saindo do evento e que também era o momento que ele estava encerrando as atividades do dia.
Foram mais 70 espaços visitados e muita conversa boa, então a essa hora eu já estava suada e descabelada rsrs.
Vale lembrar que para ir na CASACOR você tem que reservar um bom tempo para poder aproveitar o evento e todas as experiências que cada ambiente pode te oferecer!
Eu estava aguardando por um momento oportuno para ir e aproveitar melhor o evento. E foi aí que no grupo de mensagem das Arquitetas Negras SP, a arquiteta Stephanie Ribeiro divulgou uma roda de conversa que ela iria mediar na CASACOR com o tema:
Mulheres no Design: arte, artesanato e sua responsabilidade social
A conversa aconteceu no espaço do bar caracol, e as pessoas se sentaram em roda para se ouvirem.
As profissionais chamadas para a conversa foram Lena Emediato, Karol Suguikawa e Maria Fernanda Paes de Barros.
As convidadas falaram sobre o seus trabalhos, o papel social de profissionais de arquitetura; como o artesanato é visto culturalmente e qual a relação do trabalho delas com o artesanato.
A primeira pergunta feita queria saber qual foi a experiência delas com o a visibilidade que o trabalho delas têm alcançado na mídia e em espaços de destaque.
Elas responderam animadamente e com muita avidez sobre a conquista do espaço que elas estavam tendo. Afinal, o espaço não foi dado a elas, mulheres. Mulheres negras e mulheres trans. E, sim, o espaço havia sido conquistado!
Eu, Jéssica, também fiz uma pergunta que era mais ou menos assim:
"A arquitetura, assim como o artesanato são trabalhos manuais. No Brasil, um país de cultura escravocrata onde se aprendeu a desprezar tudo aquilo que é feito manualmente, como a arquitetura e o artesanato podem ser considerados potência, sem cair em outro extremo da especulação do mercado de arte?"
A mediadora e anfitriã arquiteta Stephanie Ribeiro me respondeu atenciosamente contando sobre a experiência dela com o processo criativo dos trabalhadores que exerciam trabalhos braçais nos projetos dela, e a riqueza de cada uma dessas criações. Ela disse também que o artesanato e a invenção popular devem ter papéis de destaque.
A Karol Suguikawa também me respondeu apontando o trabalho escravo e ultrapassado que temos na construção civil brasileira assinada por grandes escritórios de arquitetura.
Karol falou do modelo estrangeiro de trabalho dizendo que: "lá fora um projeto leva 4 anos e a obra 6 meses. Aqui no Brasil é o contrário".
Dessa forma, o ideal seria que se aprimorasse mais a cultura de projeto onde muitas soluções seriam criadas e problemas antecipados. E, o canteiro de obras seria mais humanizado, racional e rápido, sem moer o trabalhador.
A conversa foi ótima!
Primeira vez que vi uma roda de conversa em uma CASACOR, ainda mais sendo puxada por uma arquiteta preta.
Com mais 70 ambientes na CASACOR para visitar, o que fica mesmo são as trocas com quem conhecemos nesses espaços.
Foi ótimo conhecer pessoalmente e ver de pertinho as pessoas que a gente acompanha o trabalho de longe. Foi uma honra ver a luz dessas grandes estrelas brilhar!
Após o encerramento da roda de conversa eu tive muita vontade de ir falar com as meninas, por alguns momentos me vi bem tímida e fiquei um bom tempo parada no mesmo lugar. Mas, eu não podia perder a oportunidade de ter uma troca com essas profissionais que eu havia me sentido conectada.
Então, resolvi deixar a minha insegurança de lado, aproveitar a oportunidade de ir falar com essas pessoas tão incríveis e saber um pouquinho mais sobre elas e sobre o evento.
Eu falei com a Karol sobre como a resposta dela à minha pergunta, e a segurança com que ela falava, me fez vê-la como uma profissional bastante sensível.
Karol é a primeira arquiteta mulher trans que eu conheço. Eu disse para ela o quanto esta troca havia sido especial para mim, representatividade importa, sim.
Também, eu queria agradecer à anfitriã do evento, Stephanie Ribeiro, por ter divulgado a roda de conversa das Arquitetas Negras SP.
Stephanie ficou feliz pelo grupo ser um bom canal para trazer mais arquitetas negras para espaços como o da CASACOR. Ela escolheu o espaço do bar caracol para realizar a roda de conversa justamente por ele ser de acesso público gratuito, para que a roda de conversa fosse acessível, já que o evento é pago.
Comentei com ela que esta foi a primeira vez que vi um evento tão humano e gratificante dentro de uma CASACOR como esta roda de conversa. Ela disse que geralmente não ocorrem rodas de conversas, e que esta estava sendo a primeira do evento.
Stephanie também comentou que cada arquiteto do espaço da CASACOR tem direito a promover um evento próprio em seus espaços, e que geralmente esses eventos são brindes e festinhas.
Entretanto, ela preferiu promover uma conversa com suas parceiras de trabalho, fora do seu estúdio, e em um local acessível a quem não pudesse pagar para entrar na CASACOR.
Confesso que eu não estava pensando em entrar no evento. Mas a roda de conversa que eu participei me deixou bem mais confortável com o lugar, envolvida com as pessoas e interessada em conhecer os ambientes de cada projeto da CASACOR.
Como todo o lugar é bom pra ter uma conversa, na saída de um dos banheiros uma das convidadas me reconheceu e perguntou se foi eu quem havia feito uma das pergunta. Eu respondi que sim e nos apresentamos novamente.
Ela, Maria Fernanda Paes falou novamente sobre o trabalho dela com artesanato. Ela viaja por diversas regiões do Brasil para conhecer novas produções de artesanato. Ela tem um estúdio de artesanato brasileiro na cidade Jundiaí, em São Paulo.
O evento CASACOR acontece em diversas cidades brasileiras nos edifícios icônicos de cada lugar.
O evento fica ainda mais especial quando ele ocorre em edifícios que já são bem conhecidos e representam marcos na arquitetura de cada cidade.
Neste ano de 2023 a CASACOR SP está acontecendo no segundo e terceiro andar do Conjunto Nacional. O edifício está localizado na Avenida Paulista, nº2073 em São Paulo - SP
O evento começou no dia 30 de maio e vai até o dia 06 de agosto de 2023.
Os preços para entrar evento variam entre R$51, meia entrada para um dia, até R$601 para passaporte.
Veja aqui mais opções:
A Casa Riachuelo teve pela primeira vez o seu espaço na CASACOR e também é uma das patrocinadoras do evento. Morada do Samba com 200m² é um projeto de interiores para uma casa com referências afrobrasileiras criada pelo arquiteto Marcelo Salum.
O que mais me chamou a atenção nesse ambiente foi o oratório, pois a espiritualidade que é um elemento subjetivo, e que o arquiteto levou em consideração neste projeto.
As religiões de matriz africana atribuem significados a muitos elementos da natureza e utilizam plantas em suas cerimônias.
Neste oratório foram adicionadas dois vasos com Espada de São Jorge, planta que traz proteção.
O uso de vela de sete dias também é um elemento muito marcante em religiões como a Espírita, Umbanda e Candomblé.
Este projeto é uma proposta expositiva de um oratório, por isso vale se atentar ao fato que as velas colocadas em cima de livros não é recomendada pelo risco de incêndio.
Entre um espaço e outro, haviam pequenas instalações estimulando diferentes sensações e quebras de ritmo nos visitantes.
LIGHT MY FIRE que em português significa "acenda meu fogo" é uma frase com texto projetado por luz e sombra através de cortes em chapa de ferro fixado em uma parede.
As 5 arquitetas negras que pude mapear se encontram em 4 do 70 espaços do evento. As arquitetas negras estão nos ambientes 32, 34, 37 e 39.
Na imagem de divulgação da CASACOR é possível ver uma pessoa negra e uma arte do edifício na cor marrom próxima do tom de pele da pessoa ao lado. E em cima tem o texto do tema do evento: "Corpo & Morada".
Os ambientes CASACOR são feitos por mais de 90% por arquitetos brancos. As pessoas que tem condições de pagar para entrar no evento e consumir este tipo de arquitetura também são brancas.
Ir em lugares importantes e contar quantas pessoas negras estão ali, e que posição elas ocupam, é um caminho sem volta.
No Brasil durante o período da escravidão as terras eram doadas pela monarquia para a aristocracia. E a primeira coisa que se fez antes da abolição em 1988 chegar foi criar a Lei de Terras de 1850, que faria com que uma propriedade só pudesse ser adquirida por meio de compra.
Dessa forma, os negros futuros ex-escravizados não receberiam terras e também não teriam onde morar, privilegiando brancos e herdeiros dentro de uma política racista promovida pela elite brasileira.
A moradia é um direito constitucional, mas os negros ainda são os que tem menos acesso a esse direito.
Refletir sobre esses fatos faz avaliar como o discurso da CASACOR de trazer um corpo negro e falar de morada se reflete na realidade.
Escritório Hellen Pacheco faz:
- Projeto de Design de Interior
- Arquitetura
- Paisagismo
- Reforma com Gestão de Obra
- Financiamento da Obras
Este ambiente faz parte da exposição e também é um banheiro coletivo do local utilizado pelos visitantes. Então, esse é um ponto muito chave no projeto, pois dá para entender de fato como ele funciona, ou não funciona.
Pessoalmente, eu não sou fã de banheiros escuros e nem com muitos contrastes. Se a paleta fosse mais fosca, acredito que deixaria o ambiente mais aconchegante.
Por outro lado, o espaço do banheiro é bastante generoso e esse hall de acesso com o portal circular é pra mim o auge da estética do projeto.
•Presidente @fazendinhando
•Elenco @casacor_oficial
•Arquitetura na Favela
•Urbanismo Social
•Sustentabilidade
•Empoderamento Feminino
A máquina de lavar roupas dentro do banheiro é elemento do projeto que mais me chamou a atenção, e a atenção de muita gente que passou por ali durante o momento que eu estive no espaço.
A possibilidade de tirar a roupa suja do copo e lavar ela no mesmo ambiente pode ser bem interessante, e sendo no banheiro é possível aproveitar as instalações hidráulicas.
Esta é uma solução bastante enxuta para 3 pessoas em uma casa de 34m².
Por outro lado, a máquina de lavar roupas no banheiro exige que ela também seja secadora, para que não seja necessário estender a roupa úmida em outro local, já que não é recomendável secar roupas no banheiro devido a umidade do próprio ambiente.
Por ser secadora, o preço do eletrodoméstico e até o valor da conta de luz da casa podem ser uma grande questão para uma família na periferia.
Decora @gnt e @globoplay
Casacor (2023)
Forbes Under 30 (2020)
MIPAD (2018)
Medalha Theodosina Ribeiro (2015)
Contato: ste@lahouse.net.br
Ambiente - Loft/SPA 54m²
Neste projeto Stephanie trabalhou junto com outras mulheres tendo o artesanato como elemento em comum e criador de espacialidades femininas.
Minha Opinião: O teto foi o elemento mais marcante nesse projeto. O teto é formado por algumas madeiras posicionadas fixando o tecido no teto. A barriga formada pelo afrouxamento do tecido cria uma atmosfera única!
O espaço é quase inteiramente curvo que lembra um pouco a sensação de estar dentro de uma caverna, ou em algum orifício do corpo rs.
Esse projeto me fez lembrar o quanto as mulheres já foram musas e inspiração das curvas da arquitetura. Oscar Niemeyer que o diga.
Neste projeto e na vida agora as mulheres também podem ser artistas, e falar de seus corpos na arquitetura por si mesmas.
Instagram: audreycarolini
CEO: @arq.tab
| @olhar.delas | @joharimoda
Diretora de Comunicação e Programação @iab.sp
Voluntária @arquitetasnegras 🧡
Instagram: thami_mendes
Arquiteta e Designer | SP - BR ✨
@arq.tab | @olhar.delas | @vierge.art
Diretora de Políticas Profissionais @iab.sp
Minha opinião: O auge desse projeto foi o vaso sanitário com assento aquecido. O assento sanitário em um dia frio pode ter uma sensação térmica que dificulte a utilização de quem já tem alguma deficiência ou necessidade especial.
Gostei da sensibilidade das arquitetas de levar esses detalhes para o projeto.
Mas, na hora de testar o aquecimento do vaso sanitário, ele não funcionou.
Vale refletir sobre o uso prático no dia a dia, manuseio de toda a automação e sistemas de inteligência da casa que uma hora também pode falhar.
O principal propósito deste espaço foi fazer as pessoas refletirem sobre sua casa, trabalho e como eles podem ser leves.
As arquitetas Flávia Burin e Bruna Moretti do Studio HA se inspiraram em criar um espaço de trabalho pensando em uma mulher que tem a cerâmica como hobby.
Este foi o ambiente que mais me fez sentir conectada a ele, conectada fisicamente, inclusive. Pois, esse foi um dos poucos ambiente que podia ser realmente tocado.
Gosto muito de quando uma exposição oferece alguma interação com as pessoas.
Neste espaço havia um torno com argila em cima que era possível ser girado manualmente e simular o molde de peças de cerâmica.
Afinal, quem nunca teve vontade se sentir um pouquinho dentro do filme Ghost? rsrs
Eu percebi a presença peças de animais da fauna brasileira esculpidos em madeira em diversos ambientes, principalmente de animais como tamanduá e tatu.
Desde o hall de entrada, até em banheiros a presença dessas peças podem ser registradas.
Pesquisando um pouco eu vi que em 2019 na SP Arte bancos indígenas do Xingu estiveram expostos no Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera.
Acredito que a SP Arte de 2019 pode ter influenciado muito a CASACOR deste ano de 2023, pois esses bancos e outras peças de animais esculpidos estavam presentes em inúmeros espaços.
Apesar do uso frequente dessas obras em diversos ambientes, não havia arquiteta ou arquiteto indígena no evento.